Diagnóstico de autismo na vida adulta: conheça Cleiton!
Hoje vamos contar a história do proTEAgonista Cleiton Lopes Pereira, de 33 anos. Ele mora no Rio de Janeiro com a esposa e um filho de 8 anos. Cleiton é Psicólogo e atualmente atende apenas home office. Relatou que gosta muito de manter o foco nos estudos. A história de Cleiton é sobre o seu diagnóstico recente de autismo Nível I. Vamos lá?
O processo de diagnóstico do autismo
Cleiton recebeu o diagnóstico com 32 anos, na metade de 2023. Passou por uma avaliação por uma neuropsicóloga e por um psiquiatra. Contou: “Eu já tinha a suspeita de ter alguma coisa fazia algum tempo.”
Alguns sinais na infância
“Na minha infância eu tinha muita dificuldade, eu me escondia para não ter que interagir. Na escola só se dava bem mesmo com os professores que eram adultos… já com as crianças era bem caótico pra mim.”
A dificuldade de interação social é uma das características centrais do autismo e pode se manifestar de diversas maneiras, como, dificuldade de entender expressões faciais, linguagem corporal ou de manter a interação social.
Cleiton contou que ele era muito literal. “Por exemplo, na escola quando os professores falavam pra eu brincar com as crianças eu não queria brincar, na minha cabeça como falaram que eu estava alí pra estudar eu levava isso a ferro e fogo, que alí era pra estudar, era uma regra pra mim, levava isso de forma totalmente literal.”
A forma de Cleiton brincar era muito mais com brincadeiras de encaixe e organização do que de outra forma.
Mas, mesmo com alguns sinais relatados de sua infância, o diagnóstico só veio mesmo esse ano.

Fonte: Foto cedida do arquivo pessoal de Cleiton
O que mudou com a chegada do Diagnóstico?
Cleiton falou que com a chegada do diagnóstico ele pode se aceitar um pouco, algumas coisas que não mudavam com a terapia que ele já fazia antes, ele pode entender porque permaneciam iguais.
“Sempre me achei um pouco diferente, com o diagnóstico me ajudou a ter uma aceitação das diferenças”
Tratamento e Intervenção
Quando falamos de intervenção na vida adulta de pessoas autistas, o olhar é diferente daquele que costumamos ter para terapias e intervenções com crianças. Ainda mais com Cleiton, que já é da área da psicologia e já fazia terapia antes de descobrir o autismo.
“Tive que parar um tempo a terapia, pois fiquei sem terapeuta, depois passei por alguns terapeutas que não me dei muito bem. Aí achei uma psicóloga onde consegui ter uma relação terapêutica melhor. Estou fazendo terapia com uma psicóloga da abordagem humanista. Também faço tratamento medicamentoso, até por conta das comorbidades que tenho.”
“No momento também estou tentando me engajar em alguma atividade física, eu fazia, tive que parar e agora estou tentando voltar.”
“A terapia em si que faço é mesmo falada, não tem nenhum outro repertório muito diferente. É bastante voltada pra questão da aceitação mesmo, por mais que eu tenha conseguido melhorar muito, ainda está em processo, o diagnóstico ainda é recente. Então a terapeuta conduz muito pra esse lado da aceitação, de entender que o diagnóstico não é uma sentença. Aceitar mas não se resignar à situação.”
A psicologia como profissão e como ferramenta de autoconhecimento
Cleiton se formou em psicologia faz 5 anos. Durante a faculdade chegou a fazer estágio na área de autismo. “Alí já me plantou uma certa dúvida porque eu me via muito em alguns comportamentos delas, não igual porque eram crianças e o nível de suporte era maior, mas me via muito em algumas coisas alí, Mas eu tinha deixado isso de lado.”
“Sempre tive muito problema de hipersensibilidade com barulho, claridade, cheiros e alguns tecidos que eu não consigo sentir no meu corpo que dá agonia. Além disso, as questões das interações sociais sempre foram bastante complicadas, conforme fui ficando adulto, ficava mais evidente ainda. Como por exemplo, não entender as intenções das pessoas, as motivações, até mesmo para entender questões de normas sociais, cumprimentar as pessoas, dar bom dia, boa tarde e boa noite.”
Uma questão de foco
Ele contou que se não estivesse realmente focado na pessoa ele não interagia muito na questão de normas de educação. E interpretar o outro sempre foi muito difícil, a não ser que estivesse focado na pessoa.
“Aí que eu acho que veio a motivação da psicologia, não só por isso, mas também por isso, essa questão de tentar entender mais o ser humano. Mas também veio muito, eu acredito pelo meu histórico de desde criança ter tido contato com essa parte de saúde mental.”
Na época que era criança foi até visitar o tio no manicômio. “Foi sempre muito presente na minha vida essa questão de saúde mental e até por ter crescido com o estigma de ser diferente. Sempre fui muito aberto pra ver também a saúde mental de outras pessoas.”
Sua forma de atender as pessoas hoje é dando um espaço maior entre um atendimento e outro, até para poder focar no atendimento que está acontecendo na hora.

Fonte: Foto cedida do arquivo pessoal de Cleiton
Uma mudança de perspectiva sobre o autismo
Estudar o autismo virou um hiperfoco pra ele e isso deu uma visão diferente sobre as coisas. Ele via o tratamento de pessoas autistas de forma muito romantizada. Conhecendo outras realidades e tendo contato com outros autistas, ele percebeu que a visão dele era muito ingênua. Também começou a olhar para as questões sociais que envolvem o autismo. Como por exemplo, o acesso ao diagnóstico. Ele comentou que percebe que tem muitas pessoas brancas e que não são minorias que receberam o diagnóstico.
Com o autismo na vida dele, aconteceu dele ficar muito mais atento a si mesmo para poder ser mais flexível e adaptável. Usar o fone de ouvido quando necessário, proteger os olhos por conta da claridade e aceitação que tem coisas que fazem parte dele e não é necessário mudar.
Nessa história tem algo curioso, geralmente é comum vermos relatos de pais que descobrem o autismo através do diagnóstico do filho. Na vida de Cleiton está sendo diferente. Agora estão investigando o autismo em seu filho de 8 anos.
A história de Cleiton é uma inspiração quando pensamos em profissionais autistas no mercado de trabalho. Ele não deixou de exercer sua profissão e mesmo encarando estigmas sociais, mantém o seu foco em compreender melhor a saúde mental das pessoas e apoiá-las.
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