Ecolalia em adultos autistas
A ecolalia é um fenômeno da linguagem que pode surgir em diversas fases da vida. Frequentemente associada ao autismo, ela consiste na repetição de palavras, frases ou expressões que a pessoa ouviu anteriormente. Embora mais conhecida em crianças autistas, a ecolalia também ocorre em adultos. Neste texto, vamos explorar o que é a ecolalia em adultos autistas, suas causas, funções, tipos, como afeta a comunicação e, acima de tudo, como podemos abordá-la com compreensão e respeito.
O que é a ecolalia?
Para começar, é importante entender que a ecolalia não é simplesmente “repetição por repetir”. Na verdade, ela pode desempenhar um papel fundamental na comunicação e no processamento da linguagem para muitas pessoas autistas. Em vez de ser encarada como um “sintoma a ser eliminado”, é essencial reconhecê-la como parte de uma forma diferente de interagir com o mundo.
A ecolalia pode ser classificada em dois tipos principais:
- Ecolalia imediata: ocorre quando a repetição acontece logo após ouvir a palavra ou frase. Por exemplo, se alguém diz: “Você quer café?”, a pessoa pode responder: “Quer café?”.
- Ecolalia tardia: acontece quando a repetição é feita horas, dias ou até mesmo semanas depois. A frase pode ser usada fora de contexto, mas ainda assim ter significado para a pessoa.
Ambas as formas podem ser funcionais ou não-funcionais. Contudo, muitas vezes, o que à primeira vista parece sem sentido, pode ter um valor comunicativo profundo.

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Por que a ecolalia acontece em adultos autistas?
Muitas pessoas associam a ecolalia exclusivamente à infância, mas a verdade é que ela pode persistir ou se manifestar de forma diferente ao longo da vida. Em adultos autistas, a ecolalia pode ter várias razões, entre elas:
- Processamento da linguagem: repetir frases pode ajudar a organizar pensamentos ou compreender melhor o que foi dito.
- Regulação emocional: repetir frases pode oferecer conforto em momentos de estresse, ansiedade ou sobrecarga sensorial.
- Expressão de identidade: algumas pessoas usam frases de filmes, livros ou conversas anteriores como forma de expressar sentimentos ou ideias de maneira criativa.
- Comunicação funcional: muitas vezes, a repetição tem um objetivo claro. Por exemplo, repetir “vamos sair?” pode ser uma forma de pedir para sair, mesmo que de forma indireta.
Funções comunicativas da ecolalia
A ecolalia em adultos autistas não deve ser automaticamente considerada uma barreira. Pelo contrário, ela pode ser uma ponte para a comunicação. Por isso, vale observar qual é a intenção por trás da repetição. Algumas funções comuns incluem:
- Solicitar algo
- Responder a perguntas
- Apoiar a memória
- Fazer humor ou criar vínculos sociais
Além disso, é fundamental lembrar que a linguagem verbal não é a única forma válida de comunicação. Portanto, entender e aceitar formas alternativas de se expressar é um passo importante rumo à inclusão.

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Como identificar quando a ecolalia é funcional?
Embora, em alguns casos, a ecolalia possa parecer um obstáculo, muitas vezes ela serve a propósitos práticos. Para identificar se a ecolalia está sendo usada de forma funcional, é interessante observar:
- O contexto da repetição
- A entonação utilizada
- Se a repetição leva a uma ação ou resposta
Se, por exemplo, um adulto autista repete uma frase que costuma usar ao pedir ajuda, é bem possível que esteja tentando comunicar essa necessidade. Ou seja, há significado, mesmo que ele não se manifeste da forma convencional.
Diferenças entre ecolalia e outras condições
É importante destacar que a ecolalia também pode ocorrer em outras condições neurológicas, como a síndrome de Tourette ou após lesões cerebrais. No entanto, no caso do autismo, ela costuma estar mais relacionada ao desenvolvimento da linguagem e da interação social.
Portanto, ao avaliar a ecolalia em adultos, é essencial considerar o histórico da pessoa, suas formas de comunicação e os contextos em que a repetição ocorre. Assim, evita-se diagnósticos equivocados e abordagens inadequadas.
Como lidar com empatia e respeito
Para apoiar um adulto autista que utiliza ecolalia, a empatia deve vir em primeiro lugar. Em vez de tentar “corrigir” ou “eliminar” esse comportamento, o ideal é buscar compreendê-lo e adaptá-lo às necessidades da pessoa.
Veja algumas dicas importantes:
- Escute com atenção: tente entender o que a repetição está tentando comunicar.
- Use perguntas abertas: ao invés de perguntas que podem ser repetidas literalmente, tente usar perguntas que estimulem respostas variadas.
- Valide a comunicação: mesmo que não seja convencional, toda tentativa de se comunicar merece ser reconhecida.
- Apoie com recursos alternativos: se necessário, inclua recursos visuais, escrita, ou comunicação aumentativa.
Ademais, é essencial oferecer um ambiente onde a pessoa se sinta segura para se expressar. Afinal, quando há aceitação, a comunicação flui melhor.

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O papel dos profissionais
Fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, psicólogos e outros profissionais podem ter um papel importante no suporte às pessoas autistas que usam ecolalia. Entretanto, é fundamental que a abordagem seja centrada na pessoa, não no “problema”.
Isso significa trabalhar para ampliar as formas de comunicação, respeitando o ritmo, os interesses e os limites do indivíduo. Além disso, profissionais devem evitar metas que forcem a normatização a qualquer custo. Em vez disso, devem promover autonomia e bem-estar.
Considerações finais
A ecolalia em adultos autistas não deve ser vista como um comportamento infantil ou um obstáculo à comunicação. Pelo contrário, ela é muitas vezes uma ferramenta adaptativa, uma forma de organização cognitiva ou mesmo um recurso para se expressar.
Portanto, é essencial que familiares, profissionais e a sociedade como um todo avancem no entendimento e respeito a essas diferenças. Com empatia, escuta ativa e informação de qualidade, é possível construir um mundo onde todas as formas de comunicação sejam valorizadas.
Se você ou alguém que você conhece utiliza ecolalia, saiba que isso não é um erro. É apenas uma maneira diferente e válida de estar no mundo. E o primeiro passo para a inclusão é a compreensão.
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Referências:
1- Genial Care – acesso em 28/05/2025
2- Portal do TEA – acesso em 28/05/2025
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