Atividades sensoriais para autistas: aprendendo por meio dos sentidos

O mundo é cheio de estímulos — sons, cheiros, luzes, texturas e sabores estão por toda parte. Para muitas pessoas, isso é algo natural. No entanto, para quem está dentro do espectro autista, o processamento dessas informações sensoriais pode ser diferente, o que torna as experiências do dia a dia mais desafiadoras. É por isso que as atividades sensoriais para autistas são tão importantes. Elas ajudam a desenvolver habilidades, reduzir a ansiedade e proporcionar momentos de prazer e descoberta.

Neste texto, você vai entender melhor o que são atividades sensoriais, por que elas são essenciais para o desenvolvimento e o bem-estar de pessoas autistas e, claro, conhecer várias ideias práticas para aplicar no dia a dia.

O que são atividades sensoriais?

As atividades sensoriais são propostas que estimulam um ou mais sentidos do corpo — visão, audição, olfato, paladar, tato e até o sistema vestibular (equilíbrio) e proprioceptivo (consciência corporal).
Essas experiências ajudam o cérebro a organizar e interpretar estímulos do ambiente, o que pode ser especialmente útil para pessoas autistas que têm hipersensibilidade (reagem de forma intensa a estímulos) ou hipossensibilidade (precisam de mais estímulos para sentir).³

Por exemplo, enquanto uma criança neurotípica pode se divertir facilmente com brinquedos coloridos, uma criança autista pode se sentir sobrecarregada pelas cores ou sons. Nesse caso, atividades sensoriais adaptadas ajudam a criar um ambiente controlado, em que o estímulo é dosado de forma positiva e segura.

Por que atividades sensoriais são importantes para autistas?

Muitos autistas têm dificuldades no processamento sensorial, o que pode causar comportamentos de defesa (como tapar os ouvidos, evitar toques ou fugir de ambientes barulhentos) ou busca sensorial (como girar, balançar, apertar objetos ou cheirar tudo ao redor).

Por isso, as atividades sensoriais ajudam a¹:

• Melhorar a autorregulação emocional, já que permitem que a pessoa explore e entenda melhor suas reações;

• Desenvolver coordenação motora, equilíbrio e força;

• Estimular a comunicação e a interação social, quando realizadas em grupo;

• Reduzir o estresse e a ansiedade, promovendo bem-estar e foco;

• Favorecer a autonomia, ao ajudar a pessoa a compreender melhor o próprio corpo e o ambiente.

Além disso, quando bem direcionadas, essas atividades podem até facilitar o aprendizado em contextos escolares e terapêuticos, já que o cérebro consegue processar as informações com mais clareza após uma boa regulação sensorial.

Fonte: Canva

Tipos de estímulos sensoriais e exemplos de atividades

Para montar um ambiente sensorial equilibrado, é importante conhecer os tipos de estímulos que podem ser trabalhados. Assim, é possível adaptar as atividades às necessidades e preferências de cada pessoa.

1. Estímulos táteis (toque)

O tato é um dos sentidos mais explorados nas atividades sensoriais. Ele ajuda no desenvolvimento da coordenação motora fina e da percepção corporal.

Exemplos de atividades:

• Brincar com massinha caseira ou slime ;

• Explorar caixas sensoriais com grãos, areia, algodão, bolinhas ou feijões;

• Usar pintura com os dedos para estimular o contato com diferentes texturas;

• Experimentar tecidos variados (macio, áspero, gelado, quente).

Essas experiências ajudam a pessoa autista a entender melhor os limites do corpo e a lidar com diferentes sensações, algo que pode ser difícil para quem evita ou busca demais o toque.

2. Estímulos auditivos (som)

A audição também pode ser uma fonte de desconforto ou prazer. Muitos autistas sentem incômodo com sons altos, enquanto outros se encantam com músicas, batidas ou ruídos repetitivos.

Exemplos de atividades:

• Montar instrumentos musicais simples, como chocalhos ou tambores caseiros;

• Ouvir sons da natureza (chuva, pássaros, ondas do mar);

• Criar uma rotina musical, com canções que ajudem a transitar entre atividades;

• Usar fones com ruído branco para momentos de relaxamento.

Com isso, é possível trabalhar a tolerância auditiva e desenvolver o prazer pela música — que, inclusive, pode se tornar um grande interesse ou talento.

3. Estímulos visuais (visão)

O sentido da visão pode ser tanto uma fonte de fascínio quanto de sobrecarga. Ambientes com luzes fortes ou muitos estímulos visuais podem ser difíceis de suportar para algumas pessoas autistas.

Exemplos de atividades:

• Brincar com luzes coloridas, lanternas e sombras;

• Observar bolhas de sabão, que ajudam na atenção visual e no foco;

• Criar frascos sensoriais com glitter, água e óleo colorido;

• Explorar jogos com contrastes de cor e formas geométricas.

Essas experiências visuais ajudam a melhorar a atenção e a concentração, além de serem calmantes em momentos de agitação.

4. Estímulos olfativos e gustativos (cheiro e paladar)

Alguns autistas têm aversão a cheiros e sabores intensos, enquanto outros adoram explorar aromas. Trabalhar esses sentidos deve ser feito com cuidado e respeitando os limites individuais.

Exemplos de atividades:

• Explorar cheiros suaves, como ervas e essências naturais;

• Cozinhar receitas simples, permitindo que a pessoa participe do processo;

• Montar uma brincadeira de adivinhação de cheiros (com segurança);

• Criar massinhas aromatizadas com essências naturais.

Essas experiências ajudam na ampliação da tolerância sensorial e podem favorecer uma relação mais tranquila com os alimentos.

5. Estímulos vestibulares e proprioceptivos (movimento e corpo)

Esses dois sistemas sensoriais são fundamentais para o equilíbrio, a noção corporal e o controle dos movimentos. Por isso, são muito trabalhados em terapias ocupacionais.

Exemplos de atividades:

• Brincar de pular em cama elástica ou pula-pula;

• Fazer circuitos motores com obstáculos, rampas e túneis;

• Usar balanços, redes ou cadeiras suspensas;

• Fazer atividades que envolvam empurrar, puxar ou carregar objetos.

Essas experiências ajudam na consciência corporal, no controle da força e na coordenação. Além disso, podem ser muito relaxantes para quem busca movimento constante.

Como adaptar atividades sensoriais em casa

Nem sempre é preciso investir em materiais caros para criar momentos sensoriais de qualidade. Com criatividade, é possível adaptar objetos do dia a dia.
Veja algumas dicas:

1. Observe o perfil sensorial da pessoa autista. Entenda o que causa desconforto e o que gera prazer. Essa observação é essencial para evitar sobrecargas.

2. Comece com estímulos leves. Aumente a intensidade aos poucos, conforme houver aceitação.

3. Crie um espaço seguro. Deixe o ambiente tranquilo e previsível, sem barulhos ou luzes fortes.

4. Use as atividades para promover vínculo. Fazer as experiências junto pode fortalecer a conexão emocional e a confiança.

5. Valorize o tempo de pausa. Se a pessoa se sentir sobrecarregada, permita que ela descanse.

Com essas pequenas adaptações, é possível tornar o ambiente familiar um espaço acolhedor e estimulante, promovendo desenvolvimento e bem-estar.

O papel do terapeuta ocupacional

Embora muitas atividades possam ser feitas em casa, o acompanhamento de um terapeuta ocupacional é fundamental. Esse profissional é especialista em integração sensorial, e sabe avaliar com precisão quais estímulos ajudam e quais devem ser evitados.⁴

Ele também pode orientar a família sobre como organizar a rotina sensorial, escolher brinquedos adequados e criar estratégias para situações desafiadoras — como idas ao mercado, consultas médicas ou períodos de transição.4

Atividades sensoriais: um caminho para o equilíbrio

As atividades sensoriais vão muito além da brincadeira. Elas representam uma ferramenta poderosa de inclusão, desenvolvimento e qualidade de vida. Por meio delas, pessoas autistas podem se sentir mais confortáveis no mundo, compreender melhor o próprio corpo e aprender novas formas de se expressar.

Cada experiência sensorial é única. Por isso, o mais importante é respeitar o ritmo e as preferências individuais, celebrando cada avanço — por menor que pareça.
Afinal, o verdadeiro objetivo não é apenas estimular os sentidos, mas sim oferecer bem-estar, segurança e prazer nas descobertas diárias.

Referências:

1- Instituto Neurosaber– acesso em 09/10/2025

2- Terra – acesso em 09/10/2025

3- Caasadoravel – acesso em 09/10/2025

4- Espaço Cel -acesso em 10/10/2025