Além dos laudos do TEA: A história de Tabata e Meu Mundo Atípico
Neste texto, você vai conhecer a influenciadora Tabata Cristine, 34 anos, nossa proTEA da vez. Natural de São Bernardo, mas atualmente morando em Blumenau, Santa Catarina, Tabata reside com os pais desde o término de seu relacionamento em 2022. Ela é mãe de três cachorros, que fez questão de ficar com ela após o divórcio. Ela vai nos contar como foi ir atrás dos laudos do TEA.
A sua vida profissional é bastante agitada — como ela mesma diz, trabalha em “mil coisas”. É CLT e atua como analista de marketing em uma empresa de tecnologia, de forma remota. Além disso, ministra palestras e eventos, cria conteúdo para a internet e é fundadora do Mundo Atípico Club, a maior plataforma do Brasil voltada para apoiar adultos autistas. Tabata também é formada em Engenharia Ambiental, profissão que deixou de exercer em 2018, quando decidiu migrar para a área de Marketing.
A descoberta do autismo e o caminho da autocompreensão
Tabata relata que nunca havia procurado o diagnóstico de autismo de forma consciente. “Nunca foi por perceber características e pensar que pudesse ser autismo,” ela conta. “Em 2016, eu vi que não sabia quem eu era. Eu percebia que, conforme eu estava com um grupo de pessoas, me adaptava para agir como aquele grupo. Não sabia quem era a Tabata quando estava sozinha, sem alguém para imitar. Foi então que procurei terapia para tentar entender isso.”
Desde cedo, havia indícios de superdotação, algo que sua pediatra sempre mencionava. “A única suspeita que sempre foi muito forte foi a superdotação. Falei muito cedo, aos 6 meses, e sempre tive uma fala muito robusta, sempre fui uma criança muito madura para minha idade.”
A suspeita do autismo
Na terapia, foram identificados a superdotação e o TDAH, mas foi só depois de dois anos que a questão do autismo surgiu. O gatilho foi a série Atypical e o personagem Sam, que é autista.
“Foi um bum, uma revolução na minha mente. Me vi completamente naquele personagem; foi a primeira vez na vida que me identifiquei com alguém. Até então, eu assistia a séries e filmes para estudar e ver como as pessoas eram, e nunca tinha me visto representada como me vi em um personagem autista.”
Tabata levou suas reflexões sobre a série para a terapia. “Vi as estereotipias, as reações intensas a barulhos, os interesses específicos. O Sam gostava de pinguins, e eu tive meus interesses por bandeiras, países, dinossauros, desenhos animados… vários interesses específicos, igual a ele. Descobri também que minha repetição de palavras era ecolalia.” Aos poucos, ao compartilhar suas experiências e identificar essas características, chegou-se ao diagnóstico de autismo.
Porém, Tabata encontrou barreiras ao buscar um laudo formal. “Foi um show de horrores de capacitismo e de todo absurdo que vocês puderem imaginar, eu já ouvi. Até que meu cabelo era bonito demais para eu ser autista, porque, segundo alguns, autistas não têm vaidade.”
Foram mais dois anos até que ela finalmente encontrasse um profissional capacitado. Em 2022, com uma avaliação neuropsicológica, veio a confirmação do diagnóstico de autismo.

Fonte: Arquivo Pessoal – cedido por Tabata
Entre laudos do TEA e descobertas
Tenho três laudos de médicos diferentes e uma avaliação neuropsicológica de três páginas, porque sempre me senti uma fraude. Desde sempre, ouvi que eu não poderia ser autista.
Tabata buscou profissionais de áreas distintas para seu diagnóstico. O primeiro foi um neuropediatra em Blumenau, que deu o laudo inicial e a fez compreender que era autista. “Mas aí a galera da internet começou a me tacar pedras e duvidar,” conta ela. Então, procurou uma médica autista generalista que atende mulheres. “Meu segundo laudo é de uma profissional geral.” Mais tarde, Tabata realizou uma avaliação neuropsicológica, que levou à sua atual médica, Adriana Moraes, especialista em atendimento a mulheres autistas com superdotação, de Foz do Iguaçu.
A avaliação neuropsicológica foi conduzida por Mônica Scuissiato, psicóloga de Curitiba. “Ela me encontrou na internet, era minha seguidora e viu o caos que eu estava passando — financeiro e emocional, com muitas crises. Eu estava completamente desamparada, e ela então realizou minha avaliação.” Mônica, com anos de experiência em avaliação de autistas, especialmente mulheres autistas com superdotação, acolheu Tabata nesse momento delicado.
“Foi um processo longo,” Tabata relata. “Meu caso tinha várias questões. Nem sempre eu estava bem para fazer o teste, e a Mônica sempre teve o cuidado de perceber quando eu não estava legal e marcava para outro dia.” Todo o processo foi online, o que trouxe vantagens para Tabata. “Eu não me sentiria confortável num presencial, fora do meu ambiente. E foi a Mônica quem trouxe muita informação sobre mim. Sempre jurei que não tinha pensamento rígido, e descobri lá que é o que eu mais tenho. Descobri também que sou uma boa comunicadora. Essa avaliação me abriu portas e um novo olhar sobre mim mesma, foi um divisor de águas na minha vida mesmo.”
No geral, Tabata levou quatro anos para descobrir e receber o primeiro laudo de autismo.
Um relato emocionante e o nascimento do meu mundo atípico
Tabata conta: “Peguei meu primeiro laudo no dia 18 de Junho de 2020, por coincidência, dia do orgulho autista. O médico falou, Olha não conta pra ninguém, deixa assim, não conta pra ninguém, não precisa. E eu já havia vivido 27 anos tentando ser heterossexual, num relacionamento terrível, numa vida terrível , uma profissão que eu não gostava, que era a Engenharia. Eu estava me descobrindo de todas as formas e o autismo veio pra fechar essas minhas saídas do armário, eu não quis ficar em mais um armário. Eu já estava desde 2016 tentando entender quem eu sou. Quando veio a resposta em 2020, a primeira coisa que eu fiz foi me sentir sozinha, porque não tinha nada sobre autismo em adultos na internet, me senti invisível, abandonada e sozinha.
Cheguei na minha casa depois dessa consulta, fiquei um tempo olhando do carro, procurei na internet e não achei nada. No estacionamento do prédio, liguei a câmera e fiz meu primeiro vídeo. Foi aí que nasceu o meu mundo atípico. Foi desse vídeo, desse dia, onde eu falo sobre o sentimento de solidão e que se tivesse outro autista se sentindo da mesma forma, que pudesse alcançar ele e a gente se ajudar de alguma forma, nunca esperei que chegaria a 160 mil pessoas. Eu estou vivendo um sonho, foi assim que eu lidei.”
Hoje Tabata é uma referência na internet, foi uma das pioneiras em falar sobre autismo em adultos na internet.

Fonte: Arquivo Pessoal – cedido por Tabata
Como Tabata encontrou suporte e crescimento
Tabata cresceu sem um diagnóstico formal, mas sempre teve o apoio dos pais, que a incentivaram a participar de várias atividades. Ela atribui seu bom desenvolvimento a esses cursos e aulas diversos. Desde os 7 anos, subiu ao palco em apresentações de balé, teclado, piano e bateria. Esteve sempre envolvida em atividades físicas e participou de provas de atletismo, futebol e radboll, conquistando medalhas e troféus. Esse estímulo constante contribuiu significativamente para o seu desenvolvimento.
Após o diagnóstico na vida adulta, Tabata enfrentou desafios, principalmente pela falta de profissionais capacitados em áreas distintas do autismo. “Só encontro psicólogos,” comenta. Ela passou por psicoterapia com diferentes abordagens, incluindo Gestalt e Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), sendo esta última a mais frequente. Atualmente, ela considera explorar a psicanálise, uma abordagem muitas vezes cercada de preconceito, mas que hoje faz sentido para ela. “Quero tratar meus traumas do passado agora que já trabalhei bastante as habilidades,” explica. Ela conheceu uma terapeuta especializada em trauma complexo, que também é autista, através do seu trabalho com marketing.
Tabata também experimentou terapias ocupacionais, incluindo integração sensorial online — um desafio, mas com adaptações feitas com muita criatividade e boa vontade. “Montamos uma sala de integração sensorial em casa, tudo online, e isso me ajudou muito,” ela conta. Antes, tarefas simples como tomar banho ou lavar louça, tudo que envolvia água, eram difíceis. Hoje, também conta com o apoio de uma nutricionista.
Além das terapias, Tabata segue um tratamento medicamentoso para o autismo e as comorbidades, auxiliando-a em sua jornada de autodescoberta e bem-estar.

Fonte: Arquivo Pessoal – cedido por Tabata
Conclusão: O caminho que o autismo abriu
“O autismo me trouxe propósito, amor e empatia. Desde pequena, eu queria salvar o mundo; foi isso que me levou a escolher Engenharia Ambiental. Achei que poderia fazer a diferença por ali, mas me frustrei ao perceber que não era o caminho para mim, e fiquei perdida. Me perguntava: como eu poderia, afinal, ajudar o mundo? Pra onde eu iria?
Quando descobri o autismo, encontrei uma causa, uma luta e um propósito. Surgiu um motivo para lutar, para acordar todos os dias e para trabalhar. Transformar essa luta no meu trabalho e na minha fonte de sustento é algo de que me orgulho cada vez mais. O autismo me trouxe um norte, um caminho cheio de aprendizados, amizades, desafios e, sim, questionamentos e ódio na internet. Trouxe também dificuldades que eu achei que não superaria, mas uma coisa levou à outra.
Então, se hoje estou palestrando e viajando pelo Brasil, não é apenas porque sou autista, mas porque descobri o meu propósito ao me entender como autista. E esse propósito é usar minha maior habilidade, a comunicação, para ajudar outras pessoas.”
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