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Alterações sensoriais no autismo: O mundo sentido de forma diferente

7 minutos de leitura

Imagine viver em um mundo onde as luzes brilham como faróis, os sons do dia a dia soam como sirenes, e o toque de uma roupa pode parecer lixa contra a pele. Para muitas pessoas autistas, essa é uma realidade constante. As alterações sensoriais no autismo são um dos aspectos mais marcantes da condição, embora ainda sejam pouco compreendidas por quem não vive essa experiência na pele.

Neste post, vamos explorar o que são essas alterações, como elas afetam a vida cotidiana das pessoas no espectro, e de que forma familiares, profissionais e a sociedade como um todo podem contribuir para um ambiente mais acolhedor e sensível. Afinal, compreender o outro é o primeiro passo para a inclusão verdadeira.

O que são alterações sensoriais?

As alterações sensoriais no autismo referem-se a uma diferença na forma como o cérebro percebe, processa e responde aos estímulos sensoriais. Isso inclui os cinco sentidos clássicos — visão, audição, olfato, paladar e tato — além dos sentidos internos, como o senso de equilíbrio (vestibular) e a percepção corporal (propriocepção).

Essas alterações podem se manifestar de duas formas principais:

  • Hiperresponsividade sensorial: quando os estímulos são percebidos de forma exagerada. Um som comum pode ser doloroso, uma luz fraca pode parecer intensa, e um cheiro leve pode ser insuportável.

  • Hiporresponsividade sensorial: quando há uma resposta diminuída a estímulos. A pessoa pode não perceber a temperatura do ambiente, não notar quando se machuca ou buscar sensações intensas para sentir algo.

Além disso, muitas pessoas no espectro vivenciam uma mistura dessas respostas, podendo ser hipersensíveis a certos estímulos e hipossensíveis a outros — ou até mesmo variar essa sensibilidade dependendo do momento.

Fonte: Canva

Por que isso acontece?

Embora ainda existam muitas perguntas sem resposta, pesquisas sugerem que essas alterações estão ligadas ao funcionamento neurológico do cérebro autista. Diferentes áreas do cérebro, responsáveis por integrar as informações sensoriais, podem apresentar conexões atípicas. Isso leva a uma percepção sensorial diferente — não necessariamente melhor ou pior, mas simplesmente distinta.

Portanto, não se trata de uma escolha ou de exagero. Ao contrário, é uma forma legítima de perceber o mundo. E mais importante ainda: merece respeito e compreensão.

Como essas alterações afetam a vida cotidiana?

As experiências sensoriais têm impacto direto no bem-estar e na funcionalidade da pessoa autista. Um ambiente comum para a maioria pode ser altamente desafiador para alguém com sensibilidade sensorial.

1. Ambiente escolar

Na escola, o barulho da sala de aula, o cheiro da merenda, o toque das roupas do uniforme ou até o som da campainha podem gerar extremo desconforto ou crises. Assim, muitas vezes, a criança autista é rotulada como “inquieta”, “desatenta” ou “birrenta”, quando na verdade está apenas reagindo a um ambiente sensorialmente agressivo.

Além disso, a hipossensibilidade pode dificultar o aprendizado por falta de estímulo. A criança pode não responder ao seu nome, parecer distante ou buscar sensações extremas para manter o foco.

2. Relações sociais

As interações sociais também são afetadas. Um simples abraço pode ser incômodo ou até doloroso para quem é sensível ao toque. Por outro lado, alguém com hipossensibilidade pode buscar toques constantes, se aproximar demais ou falar alto, o que pode ser mal interpretado pelos outros.

Desse modo, os desafios de socialização, frequentemente atribuídos apenas à comunicação verbal, também estão profundamente ligados às experiências sensoriais.

3. Rotina familiar

Em casa, situações comuns como cortar o cabelo, escovar os dentes ou experimentar uma comida nova podem ser extremamente difíceis. Embora pareçam tarefas simples, envolvem múltiplos estímulos sensoriais — sons, texturas, cheiros — que podem ser aversivos.

Logo, a família precisa de estratégias adaptadas e de muito acolhimento para lidar com esses momentos de forma respeitosa e eficaz.

Fonte: Canva

Estratégias para lidar com as alterações sensoriais

Agora que compreendemos a profundidade das alterações sensoriais no autismo, é essencial discutir formas de apoio e acolhimento. Existem diversas estratégias que podem ajudar a reduzir o impacto negativo dessas experiências e promover maior qualidade de vida.

1. Adaptação do ambiente

A primeira e talvez mais eficaz medida é adaptar o ambiente físico:

  • Diminuir ruídos com fones abafadores.

  • Usar luzes indiretas ou de menor intensidade.

  • Oferecer roupas confortáveis e com tecidos suaves.

  • Criar cantinhos sensoriais com objetos táteis e calmantes.

Essas adaptações não são difíceis de implementar, mas exigem atenção e empatia. Por isso, é importante observar atentamente os sinais da pessoa autista para identificar quais estímulos são desconfortáveis.

2. Comunicação e respeito

O respeito às preferências sensoriais deve ser prioridade. Perguntar antes de tocar, evitar cheiros fortes, não forçar contato visual — são atitudes simples, mas que fazem toda a diferença.

Além disso, utilizar comunicação visual (como pictogramas) e dar avisos prévios sobre mudanças na rotina ajudam a reduzir a ansiedade causada por estímulos inesperados.

3. Apoio profissional

Ter acompanhamento de terapeutas ocupacionais, especialmente os especializados em integração sensorial, pode ser muito benéfico. Esses profissionais ajudam a identificar padrões sensoriais e a desenvolver estratégias personalizadas para promover o conforto e a autonomia.

É importante lembrar que cada pessoa autista é única. Portanto, não há uma receita pronta. O que funciona para um pode não funcionar para outro. Sendo assim, o acompanhamento profissional deve ser individualizado e construído em conjunto com a família.

Fonte: Canva

Alterações sensoriais não são “defeitos”

É fundamental entender que as alterações sensoriais não são um “problema a ser corrigido”, mas sim uma característica do modo de ser autista. Elas fazem parte da identidade da pessoa e, muitas vezes, também estão ligadas a habilidades únicas — como uma audição apurada, percepção de detalhes ou sensibilidade artística.

Aceitar essas diferenças é o caminho para a inclusão verdadeira. Mais do que adaptar o mundo às pessoas autistas, é preciso mudar o olhar sobre o que é “normal”. Afinal, a diversidade sensorial enriquece a experiência humana.

Como apoiar

As alterações sensoriais no autismo revelam um modo singular de perceber o mundo. Embora tragam desafios, também abrem caminhos para uma convivência mais sensível, empática e inclusiva. Cabe a todos nós — familiares, educadores, profissionais da saúde e sociedade — o papel de aprender, respeitar e apoiar.

É natural que nem sempre compreendamos aquilo que não sentimos na própria pele. Contudo, ao ouvir, observar e dialogar com pessoas autistas, podemos ampliar nossa visão e criar ambientes mais humanos para todos.

Se você convive com alguém no espectro, lembre-se: cada gesto de compreensão conta. Se você é autista, saiba que sua forma de sentir o mundo é válida, importante e merece espaço. E se você trabalha com autismo, que nunca falte curiosidade, respeito e vontade de aprender com quem mais entende do assunto — as próprias pessoas autistas.

Obrigado pela leitura e não deixe de acompanhar outros conteúdos do Autismo em Dia, tanto aqui no site como em nosso Instagram. Até a próxima!

Referências:

1- Grupo Conduzir – acesso em 13/06/2025

2- Neuro Conecta – acesso em 13/06/2025

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