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Autismo nível 1 no adulto: sinais, diagnóstico e vivências

6 minutos de leitura

O autismo nível 1 no adulto vem ganhando cada vez mais espaço nas buscas online, nas rodas de conversa e nos consultórios. Isso acontece porque muitos adultos que enfrentam dificuldades sociais, sensoriais e emocionais ao longo da vida estão descobrindo, já na fase adulta, que essas experiências têm nome: Transtorno do Espectro Autista (TEA).

O diagnóstico tardio de autismo em adultos é mais comum do que se imagina. Isso ocorre especialmente entre pessoas que, por não apresentarem atrasos na fala ou dificuldades cognitivas aparentes, passaram despercebidas na infância. Mesmo assim, enfrentaram (e ainda enfrentam) desafios significativos no trabalho, nas relações e na saúde mental.

Neste texto, vamos explicar o que é o autismo nível 1 em adultos, como identificar os sinais, os caminhos para o diagnóstico e como é possível construir uma vida com mais autoconhecimento e bem-estar.

O que é o autismo nível 1?

De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), o Transtorno do Espectro Autista é classificado por níveis de suporte necessário¹:

  • Nível 1: necessidade de suporte leve;
  • Nível 2: necessidade de suporte moderado;
  • Nível 3: necessidade de suporte substancial.

Pessoas com autismo nível 1 costumam ter boa fluência verbal e inteligência dentro da média (ou acima dela, em alguns casos), mas apresentam dificuldades na comunicação social, flexibilidade comportamental e regulação emocional.

No caso dos adultos, essas dificuldades podem estar camufladas por anos de “camuflagem social”, o chamado masking: um esforço consciente (ou não) de imitar comportamentos considerados típicos para se adequar às expectativas sociais².

Sinais de autismo nível 1 no adulto

Comunicação e interação social

O autismo em adultos pode se manifestar através de sinais como:

  • Ter dificuldade para manter conversas recíprocas;
  • Ficar exausto após interações sociais;
  • Preferir conversas sobre interesses específicos e profundos;
  • Ser interpretadas como “frias”, “rudes” ou “diretas demais”, mesmo sem intenção.

Comportamentos e interesses

Outros sinais comuns incluem:

Sensibilidade sensorial e emocional

  • Hiper ou hipossensibilidade a sons, luzes, texturas ou cheiros³;
  • Crises emocionais desencadeadas por sobrecarga sensorial;
  • Dificuldade para identificar e expressar emoções (alexitimia)⁴.

Muitas dessas características são normalizadas ou mal interpretadas na infância e juventude, o que contribui para o diagnóstico tardio de autismo.

Autismo nível 1 adulto

Fonte: Canva

Por que o diagnóstico de autismo em adultos é tão difícil?

O diagnóstico de autismo em adultos enfrenta obstáculos que vão desde o desconhecimento da própria pessoa sobre o espectro até a falta de profissionais especializados em autismo na vida adulta.

Além disso, há uma grande carga de estigma e autossuficiência atribuída à fase adulta, o que dificulta que as dificuldades sociais e sensoriais sejam vistas como sinais de TEA, e não como “timidez”, “ansiedade”, “preguiça” ou “dificuldade de lidar com pressão”.

Mulheres, pessoas racializadas, e indivíduos LGBTQIAPN+ estão entre os que mais frequentemente recebem diagnósticos tardios ou incorretos (como TAG, depressão ou bipolaridade), antes que se identifique corretamente o TEA⁵.

O que muda com o diagnóstico tardio?

Receber o diagnóstico de autismo nível 1 na fase adulta pode provocar uma mistura de emoções. Algumas pessoas sentem alívio e validação, ao perceberem que há uma explicação coerente para dificuldades vividas durante toda a vida. Outras enfrentam sentimentos de luto, negação ou raiva por terem passado tanto tempo sem apoio adequado.

Mas, no geral, o diagnóstico oferece um novo ponto de partida, permitindo:

  • Entender melhor seu funcionamento;
  • Ajustar ambientes e relações com mais autocompaixão;
  • Buscar apoio psicológico e ocupacional adequado;
  • Participar de redes de apoio com outras pessoas neurodivergentes.

Como buscar diagnóstico e apoio?

1. Comece com um profissional especializado

Procure psiquiatras, psicólogos ou neuropsicólogos com experiência em autismo em adultos. O processo geralmente inclui entrevistas clínicas, testes padronizados e levantamento do histórico de vida.

2. Esteja aberto à autoavaliação

Ferramentas como o RAADS-R e o AQ (Autism Spectrum Quotient) podem ajudar a identificar padrões comportamentais que apontam para o espectro. Elas não substituem o diagnóstico profissional, mas são bons indicativos⁶.

3. Busque suporte psicológico e ocupacional

O acompanhamento por psicólogos que compreendem o funcionamento neurodivergente é fundamental para trabalhar:

  • Processamento emocional;
  • Comunicação assertiva;
  • Estratégias de enfrentamento para o dia a dia.

Autismo nível 1 adulto: é possível ter qualidade de vida?

Sim, com autoconhecimento, apoio e estratégias práticas, pessoas com autismo nível 1 podem ter uma vida plena, produtiva e feliz. Algumas dicas úteis incluem:

  • Criar rotinas estruturadas, com tempo para descanso sensorial;
  • Adaptar o ambiente físico e social para reduzir sobrecargas;
  • Informar amigos e colegas de trabalho (quando e se sentir confortável);
  • Participar de grupos de apoio ou comunidades online de pessoas autistas.

É importante lembrar: cada pessoa autista é única, e o que funciona para uma pode não servir para outra. O caminho é de descoberta e ajustes constantes — e isso é perfeitamente normal.

Conclusão

O autismo nível 1 em adultos ainda é pouco reconhecido, mas está deixando de ser invisível. Ao trazer luz sobre os sinais, os desafios e os caminhos possíveis, ajudamos mais pessoas a se entenderem melhor, se acolherem e se conectarem com quem realmente são.

Se você suspeita que pode estar no espectro, ou conhece alguém que enfrenta dificuldades similares, saiba: você não está sozinho. Procurar um diagnóstico não muda quem você é — apenas te ajuda a entender melhor o que te faz único.

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Fonte: Canva

Referências:

  1. American Psychiatric Association. DSM-5 – Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 5ª edição.
  2. Hull, L. et al. (2017). Masking and camouflaging in autism spectrum disorder. Autism in Adulthood.
  3. Robertson, A. E., & Simmons, D. R. (2013). Sensory experiences in autism spectrum disorder: A qualitative analysis. British Journal of Occupational Therapy.
  4. Bird, G., & Cook, R. (2013). Mixed emotions: The contribution of alexithymia to the emotional symptoms of autism. Translational Psychiatry.
  5. Lockwood Estrin, G. et al. (2021). Barriers to autism diagnosis for women: A systematic review. The Lancet Psychiatry.
  6. Baron-Cohen, S. et al. (2001). The Autism Spectrum Quotient (AQ): Evidence from Asperger syndrome/high-functioning autism, males and females, scientists and mathematicians. Journal of Autism and Developmental Disorders.

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