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Comunicação não verbal no autismo: entenda como funciona

7 minutos de leitura

Quando falamos sobre comunicação não verbal no autismo, muita gente pensa apenas na ausência da fala. No entanto, comunicar-se vai muito além das palavras. Gestos, expressões faciais, movimentos corporais e até silêncios são formas importantes de expressão.

Para pessoas com autismo não verbal ou com dificuldades significativas de linguagem, essas formas de comunicação são essenciais. Portanto, este blogpost vai te ajudar a entender melhor como se dá essa comunicação, por que ela acontece e, acima de tudo, como você pode apoiar um autista que não fala de forma respeitosa e eficaz.

O que é comunicação não verbal?

A comunicação não verbal é toda forma de expressão que ocorre sem o uso da fala. Isso inclui, por exemplo:

  • Expressões faciais
  • Olhar e direção do olhar
  • Postura corporal
  • Gestos e sinais
  • Proxemia (uso do espaço pessoal)
  • Estereotipias (movimentos repetitivos)

Essas formas de comunicação fazem parte da nossa vida cotidiana, mesmo para pessoas neurotípicas. Entretanto, para muitas pessoas autistas, elas são ainda mais significativas e, em alguns casos, a principal ou única maneira de se expressar.

Em autistas, muitas vezes essas formas são mais intensas, diferentes ou, até mesmo, usadas como principal meio de interação. Entender essas expressões ajuda não só na convivência, mas também no desenvolvimento de laços mais afetivos e funcionais.

Importante: O autista não verbal não é “incapaz de se comunicar”. Ele apenas comunica de forma diferente.

Por que alguns autistas são não verbais?

Não há uma única causa para um autista não desenvolver a fala. Na verdade, vários fatores podem estar envolvidos. Alguns deles incluem, por exemplo:

Condições associadas

  • Apraxia de fala: dificuldade motora para coordenar os movimentos da fala¹.
  • Atraso global do desenvolvimento².
  • Alta sensibilidade auditiva, que pode tornar a interação verbal desconfortável.

Essas condições podem impactar diretamente a habilidade da criança em formar palavras ou frases, mesmo que ela compreenda bem o que ouve. Por isso, é comum que pais e educadores confundam ausência de fala com ausência de compreensão, o que nem sempre é verdade.

Perfis neurodivergentes

  • Em alguns casos, há uma preferência natural por outros meios de comunicação, como pictogramas, escrita ou linguagem de sinais.

Além disso, alguns autistas apresentam mutismo seletivo, ou seja, falam em determinados contextos (geralmente mais seguros) e não conseguem falar em outros, devido a bloqueios emocionais ou sensoriais.

Fonte de imagem: Canva.

Como identificar os sinais de comunicação não verbal

É essencial aprender a “ler” esses sinais. A seguir, estão alguns exemplos práticos:

Expressões faciais

  • Franziu a testa = incômodo ou dúvida
  • Sorriso leve = conforto ou aprovação
  • Lábios cerrados = frustração ou ansiedade

Gestos

  • Apontar para um objeto = interesse ou pedido
  • Bater palmas = alegria ou autoestimulação
  • Levar as mãos aos ouvidos = incômodo com barulho

Olhar

  • Evitar o olhar direto pode ser estratégia para evitar sobrecarga
  • Olhar fixo para uma direção pode indicar foco
  • Olhar alternado entre uma pessoa e um objeto = tentativa de compartilhar atenção

Sons e ruídos

  • Sons como grunhidos, risos ou ecolalia também podem ter função comunicativa³
  • A ecolalia, por exemplo, muitas vezes é usada como forma de repetir para entender ou para responder com o que se tem disponível

Dica: Observe o contexto. Afinal, a comunicação não verbal é altamente contextual.

Além disso, a linguagem corporal e os padrões de movimento podem variar muito de pessoa para pessoa. O que em um autista representa desconforto, em outro pode ser sinal de entusiasmo. Por isso, conhecer bem o indivíduo é a melhor forma de compreender seu modo de se comunicar.

Fonte de imagem: Canva.

Como apoiar um autista que não fala

Apoiar uma pessoa que usa a comunicação não verbal exige paciência, observação e respeito. A seguir, veja algumas estratégias que podem realmente fazer a diferença:

Use comunicação alternativa e aumentativa (CAA)

  • Sistemas como PECS (Picture Exchange Communication System)⁴
  • Tablets com aplicativos de CAA
  • Cartões com figuras, fotos ou palavras
  • Pranchas de comunicação com símbolos visuais

O uso da CAA não impede o desenvolvimento da fala — pelo contrário, em muitos casos, ela facilita esse processo ao oferecer um caminho estruturado para a expressão.

Dê tempo para a resposta

  • O tempo de processamento pode ser mais lento.
  • Portanto, espere antes de repetir a pergunta ou mudar de assunto.
  • O silêncio pode estar cheio de pensamento e esforço para responder.

Valide a comunicação

  • Responda aos gestos e olhares como você responderia à fala.
  • Além disso, demonstre que você entendeu, ou tente entender com perguntas simples.
  • Evite corrigir a forma de comunicação — acolha como ela vem.

Crie um ambiente acolhedor

  • Reduza ruídos e distrações sempre que possível.
  • Dê opções visuais para ajudar na escolha e autonomia.
  • Além disso, estabeleça rotinas seguras que proporcionem previsibilidade.

Outra dica importante é a co-regulação emocional. Muitos autistas não verbais demonstram seu estado emocional por meios físicos, por exemplo: agitação, retraimento, sons repetitivos. Nesses momentos, a presença calma e segura de um cuidador certamente pode ajudar a trazer regulação.

Mitos comuns sobre o autismo não verbal

  1. “Autistas não verbais não entendem o que dizemos”
    Falso. Muitos têm compreensão oral preservada ou parcial. Inclusive, alguns conseguem compreender frases complexas, mesmo sem conseguir expressar verbalmente suas respostas.
  2. “Se não fala até os 5 anos, nunca falará”
    Falso. Há casos de desenvolvimento tardio da fala⁵. A fala pode surgir de forma gradual, e mesmo que não aconteça, outros meios de comunicação são igualmente válidos.
  3. “Ele não quer falar”
    Falar pode ser muito mais difícil do que parece. Portanto, não é falta de vontade. Para algumas pessoas autistas, a comunicação verbal é de fato desgastante ou inacessível em certos momentos.
  4. “Não falar é sinal de maior gravidade”
    Nem sempre. A ausência de fala não define a inteligência, afeto ou habilidades da pessoa. O espectro autista é vasto e diverso, e cada pessoa tem sua forma de ser e comunicar.

comunicação não verbal

Conclusão

A comunicação não verbal no autismo é rica, diversa e cheia de significado. Quando aprendemos a reconhecer e respeitar essas formas de expressão, criamos relações mais justas e empáticas com os autistas.

Também é importante compreender que a linguagem é uma via de mão dupla: não se trata apenas de emitir, mas também de ser compreendido e acolhido. Ao valorizar os diferentes modos de comunicar, estamos promovendo inclusão verdadeira — aquela que começa pelo entendimento da individualidade.

Se você convive com um autista que não fala, lembre-se: comunicar não é apenas falar. Estar disposto a escutar com os olhos e com o coração também faz toda a diferença.

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Referências:

  1. American Speech-Language-Hearing Association (ASHA) – Apraxia de fala infantil
  2. CDC – Centers for Disease Control and Prevention – Developmental Disabilities
  3. Autism Speaks – Speech and Communication in Autism
  4. National Autism Association – Augmentative and Alternative Communication (AAC)
  5. “Late Talkers: What to Watch For” – Mayo Clinic

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