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Inclusão e arte: o olhar sensível do professor Sampaio no trabalho com autistas

7 minutos de leitura

Nilson Sampaio, mais conhecido como Professor Sampaio, é casado e pai de um menino de 10 anos. Artista plástico, professor de arte e especialista em educação especial, inclusiva e neuroaprendizagem, ele une vivências pessoais e profissionais para construir pontes entre arte e inclusão. Seu filho, criativo e expressivo, também desenha e pinta — e sempre que possível, participa das aulas e atendimentos do pai. A presença dele não apenas inspira, mas fortalece a prática de Sampaio. Vamos conhecer a sua história sobre inclusão e arte.

Eu sou criador do método tutoria especial em arte e método PAE, que está ancorado em 3 pilares: paciência, amor e empatia.” A partir dessa base, ele desenvolve abordagens que tornam o ensino de arte mais acessível a crianças e jovens no espectro autista. A busca constante é por uma educação que seja inclusiva, acolhedora e transformadora.

Hoje, Sampaio realiza treinamentos e mentorias voltados a escolas e instituições que desejam fortalecer seus processos de inclusão de forma criativa e humanizada. Para ele, não basta olhar apenas para a criança. É preciso envolver a escola, os professores e também as famílias nesse processo.

Quando a gente trabalha com inclusão, a gente atende mais do que a criança, o trabalho se estende para famílias, pois temos que assistir junto os pais, irmãos. Às vezes quando se constrói um trabalho com a criança precisa ao mesmo tempo treinar a família pra família ajudar na construção da autoestima do aprendiz… para evitar formas de falar que podem acabar com a autoestima de uma criança… quando a criança produz arte ela está produzindo a coisa mais visceral que pode sair dela. Ela tem muito apego pelo trabalho, criança conta história quando desenha.

Fonte: Arquivo Pessoal – cedido por Professor Sampaio

Como tudo começou: inclusão e arte na carreira de Sampaio

Ao ser questionado sobre sua trajetória na arte e na educação, Sampaio relembra com carinho o início da carreira. Formado em Gravura pela Faculdade de Belas Artes, ele já se interessava por oficinas, atividades recreativas e workshops. Foi nesse caminho que surgiu a primeira oportunidade de ensinar arte a uma menina autista — algo totalmente novo para ele.

Falei pra essa mãe que não sabia o que era autismo, que não sabia como falar com a filha dela. Mas ela foi aberta e me deu uma chance de aprender a trabalhar com o autismo. Aceitei o desafio e fui trabalhar com essa menina… no começo foi totalmente tentativa e erro, mas o trabalho foi dando tão certo que comecei a receber convites de outros pais para atender os filhos deles. Foi então que vi que eu estava fazendo a coisa certa.

Essa experiência foi decisiva. Ele decidiu voltar à faculdade, agora para cursar Licenciatura em Artes Visuais, o que abriu ainda mais portas. Desde então, buscou se especializar em educação especial com foco em inclusão e autismo, fez pós em neuroaprendizagem e está finalizando uma formação internacional com certificação QASPS.

O artista que antes sonhava em “enfeitar paredes” com suas obras, hoje tem outro propósito: percebi que meu trabalho enfeita a pessoa por dentro, ao invés de enfeitar a casa dela”.

A força da arteterapia

Ao falar sobre os benefícios da arteterapia para pessoas com autismo, Sampaio é categórico: ela não é apenas uma ferramenta terapêutica, mas uma forma de conexão profunda com o outro.

A arte permite que a criança autista expresse emoções, organize pensamentos e desenvolva habilidades importantes como foco, paciência e autoestima. Para ele, a arteterapia vai muito além da recreação.

A arteterapia é um pouco subestimada… a arteterapia mexe diretamente com o que está lá dentro. Ela tem o poder de ajudar na regulação emocional e autoconhecimento… a criança aprende a nomear emoções através de cores, por meio de formas e texturas, narrativas visuais.

Em grupos, a arteterapia também promove habilidades sociais como cooperação, empatia e respeito ao espaço do outro. A arte, portanto, é linguagem, é ponte e é presença.

Fonte: Arquivo Pessoal – cedido por Professor Sampaio

Desafios, potenciais e o olhar individualizado

A inclusão, segundo Sampaio, não se faz com fórmulas prontas. É preciso ter escuta ativa e criar planos individualizados. Os desafios são grandes, especialmente quando se trata de jovens que não foram preparados emocionalmente ao longo da vida.

Muitos jovens não sabem nomear o que sentem e acabam entrando em colapso emocional… O grande desafio é quando a criança cresce e não foi preparada para superar os desafios da vida, tornando-se um adulto não funcional.

Mas os potenciais também são enormes. Cada criança, quando estimulada, pode desenvolver habilidades importantes e viver com autonomia. Para isso, ele conta com uma equipe de supervisão e planejamento individualizado para cada aluno.

Quando a gente acredita na pessoa, o caminho está traçado.

A escola está preparada para a inclusão?

Infelizmente, segundo Sampaio, a resposta ainda é “não”. A maioria das escolas tradicionais segue modelos padronizados que dificultam a inclusão verdadeira.

“Diversas escolas quando você olha o aluno autista só está fazendo parte… eram paisagem, eles não participavam com outros alunos.Falta ambiente sensorial, as salas são barulhentas, as luzes fluorescentes, falta de rotina clara… Falta formação continuada.”

Ele destaca que os professores, muitas vezes, têm boa vontade, mas não recebem o suporte adequado. Inclusão real exige capacitação, apoio e ambientes que respeitem as diferenças sensoriais e cognitivas dos alunos autistas.

Estratégias eficazes e o papel da arte

Sampaio defende práticas pedagógicas flexíveis, empáticas e adaptáveis. Não há uma única fórmula: é preciso testar e ajustar. A escola, nesse processo, precisa ser um espaço de escuta e de trabalho em rede, envolvendo família, educadores e terapeutas.

A pedagogia da escuta é ouvir e tentar entender onde está a dor. Quando uma escola se preocupa com isso, está no caminho certo…

A arte, nesse contexto, tem um papel fundamental. Ela valoriza o que está fora do padrão, rompe com os modelos normativos e oferece novas formas de expressão e pertencimento.

A arte para a inclusão fala sem precisar de palavras… Quando você busca um olhar artístico dentro da inclusão, a arte não julga, não exige, não compara, ela acolhe, traduz, por isso quando aplicada à inclusão ela é mais que pedagógica, é ética e é poética.

É acreditando em tudo isso que o professor Sampaio está lançando o livro: Meu filho é autista e agora?

Para acessar o link de pré – venda, clique aqui!

Fonte: Arquivo Pessoal – cedido por Professor Sampaio

A mensagem final

Com sua experiência, Sampaio deixa uma mensagem poderosa a todos que buscam caminhos mais sensíveis e inclusivos:

“Educar uma pessoa autista não é encaixar no que já existe, é reconstruir caminhos com escuta, mais flexibilidade, presença… A verdadeira inclusão mesmo não acontece só com recursos, laudos e pictogramas. Ela acontece quando alguém acredita de verdade que ali existe um potencial.”

Mais do que técnicas ou métodos, a verdadeira inclusão nasce da escuta, do afeto e da disposição em caminhar lado a lado.

Para conhecer mais a fundo o trabalho do professor Sampaio, acesse o site e o Instagram!

Esse foi nosso proTEA da vez sobre inclusão e arte. Não deixe de acompanhar outros conteúdos do Autismo em Dia, tanto aqui no site como em nosso Instagram. Até a próxima!

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