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Pai atípico: a transformação de Nathan Chaves através do autismo

8 minutos de leitura

Nesse texto vamos conhecer o proTEA Narthagnan Chaves, um pai atípico que encontrou no autismo um novo propósito de vida, passou a adotar o nome Nathan devido ao trabalho com crianças. Nathan tem 37 anos, é natural do Ceará, casado e pai de dois filhos: a Lis, de 13 anos, e  Júnior, de 10. Ambos são autistas. A Lis tem autismo nível 1, deficiência intelectual, epilepsia e TDAH. Já o Júnior tem autismo nível 3, deficiência intelectual e epilepsia. A rotina familiar é intensa, marcada por terapias, aprendizados e descobertas — inclusive, sobre si mesmo.

Antes de se tornar psicólogo clínico, Nathan atuava no marketing de grandes empresas. Foi só depois do diagnóstico do Júnior que tudo mudou: a carreira, o foco, a vida. E, acima de tudo, o jeito de ver o mundo. Hoje, ele é psicólogo, neuropsicólogo, musicoterapeuta, mestre em educação e doutorando em Psicologia. E também é autista e TDAH.

Nathan reforça a importância de sua esposa Solange Chaves, se não fosse ela também cuidando das crianças, nada do que tem acontecido em sua trajetória seria possível.

A virada de chave: quando o autismo mudou tudo

Entrei na faculdade de psicologia para ir pra área organizacional, trabalhar com comportamento do consumidor. Fiz uma cadeira de psicologia da infância, aí ouvi falar de autismo pela primeira vez… o Júnior tinha 1 ano e 2 meses, a Lis era mais velha. Cheguei em casa e falei pra minha esposa que o Júnior tinha autismo, ela perguntou o que era isso e começou a pesquisar na internet… foi um chororô danado, foi um peso.”

Nathan complementa:

“Mas ele não olhava, ele não interagia, apresentava estereotipias, os sinais bem clássicos… a Lis não, ela teve o desenvolvimento motor cognitivo aparentemente na primeira infância bem tranquilo, então a gente não imaginava que tivesse alguma questão na Lis. No Júnior, com 1 ano e 5 meses veio o diagnóstico de autismo. Então, mudei a minha área de atuação e formação da área organizacional para a área clínica porque eu queria compreender o meu filho. Eu queria compreender o Júnior a partir do autismo dentro da psicologia.”

Fonte: Arquivo Pessoal – cedida por Nathan

Música como linguagem e missão

A música foi uma ponte entre pai e filho, e logo se tornou ferramenta de trabalho com a musicoterapia.

A música tem inúmeras possibilidades e potência, ele não verbal, as primeiras palavrinhas vieram através da música… eu disse, poxa preciso ajudar outras pessoas. Comecei a atuar aos finais de semana como musicoterapeuta. Quando terminei a faculdade de psicologia em 2020 comecei a atuar na área clínica e mudei totalmente de carreira…

Apesar de uma carreira estável e bem remunerada, Nathan trocou tudo por um novo propósito. Na pandemia, seu hiperfoco virou o autismo através da experiência como pai atípico — e com isso, fez três especializações simultaneamente.

Fui atuar em várias clínicas com musicoterapia, minha condição chamava a atenção das famílias. Nossa, ele também é pai atípico, ele entende nossa dor, entende nossa realidade. Eu sempre tive um ótimo manejo com as crianças. Antes de ir pra área organizacional eu também fui seminarista, eu queria mudar o mundo. Com 16 anos eu me emancipei porque queria ser padre, passei um ano em um convento. Mudar o mundo é muito difícil, hoje mudo o mundo à minha maneira sendo pai e psicólogo… eu já trabalhava com criança, sempre gostei… e aí me identifiquei muito atuando como psicólogo, me realizava.

Diagnósticos em cadeia: da filha ao próprio espelho

Com o tempo, o diagnóstico de Lis também veio, após uma série de avaliações.

O diagnóstico de meninas nível 1 de suporte é mais mascarado, porque as meninas conseguem criar estratégias sociais para lidar com suas questões, timidez, a introspecção… em meninas existe já essa questão de subnotificação de diagnóstico. Se a gente não tivesse o olhar apurado até hoje ela não teria o diagnóstico de TEA.”

Pouco tempo depois, Nathan percebeu sinais em si mesmo. O processo foi longo, de negação à aceitação.

Comecei a ver muito de meus comportamentos no Júnior e na Lis, comecei a ter mais parâmetros pra olhar pra mim na psicoterapia. Fui ao psiquiatra, tenho o diagnóstico de TDAH e TAG. Aí viu que tinha algo de TEA, fui pra avaliação neuropsicológica e validou o TEA, mas eu ainda estava negando. Achava que era o espectro ampliado do autismo, todos temos alguma característica de TEA, mas precisa gerar prejuízo pra ser TEA… mas aí foi confirmado o TEA em mim.

Fonte: Arquivo Pessoal – cedida por Nathan

Ainda sobre sua própria experiência com o TEA, ele compartilha as dificuldades com vínculos, comunicação e interpretação social:

Então as falas sem noção, falas desconexas do momento, o freio social que a gente aprende a ter, eu não tenho esse freio social muito funcional… não faço flap, mas fico mexendo meu pé, fico balançando o corpo de forma leve… ou então meu cérebro fica elaborando aquilo que vou falar, planejando aquilo que vou falar, a gente chama de ecolalia de pensamento.

Um espaço para acolher famílias como a dele

Hoje, Nathan coordena a Clínica Mais Afeto, em Fortaleza. Lá, o acolhimento começa na porta de entrada.

Atendemos hoje em média de 60 famílias… eu não digo crianças, mas famílias. As pessoas nos buscam justamente porque temos o olhar de família atípica. A gente conhece na pele o que as famílias passam. Tentamos trazer pra nossa clínica aquilo que não tem em outras clínicas.

Com o Júnior, a música segue como ferramenta essencial.

“Lava a outra, lava uma mão, a doença vai embora junto com a sujeira… germes, bactérias mandam embora junto com a torneira…”

Essa foi uma das músicas usadas durante a pandemia para ensinar o Júnior a lavar as mãos.

Eu enxerguei o autismo de forma positiva. Porque pra mim eu me tornei uma pessoa melhor a partir do diagnóstico dos meus filhos. Não tô falando que é fácil. É um luto, aquele filho idealizado, que você planejou jogar bola, conversar sobre coisas do dia a dia. Eu não tenho isso com meu filho. Entretanto, o que tenho com meu filho são momentos de interação, de vinculação, e eu disse: nossa, eu preciso ajudar outras famílias a encarar o autismo de outra forma.

A criação do Instagram “O autista tem pai”

O título já foi pra trazer uma quebra de paradigma… pois a partir do diagnóstico do filho há uma evasão de relacionamento, os pais vão embora, literalmente abandonam as esposas. Por causa do luto, não sabem lidar com esse luto… e eu disse não, não é só a mãe que cuida no autismo, o pai também pode cuidar, o pai atípico também é tão potente quanto a mãe atípica.

Acesse o Instagram clicando aqui!

Na clínica, ele trabalha com orientação parental e acredita na tríade essencial: terapias, suporte escolar e, sobretudo, a participação ativa da família.

A criança precisa das terapias, ela precisa do suporte escolar, mas ela precisa principalmente da família… a família precisa ser co-terapeuta do processo de evolução dessa criança para dar continuidade ao que está sendo estimulado dentro da terapia.

Apesar da rotina puxada, a família de Nathan é unida e aproveita o tempo juntos em passeios e refeições.

Fonte: Arquivo Pessoal – cedida por Nathan

Conclusão: mais que profissão, um propósito

A história de Nathan é sobre transformação. O que poderia ser dor virou ponte. O que parecia fim virou recomeço. Ao conhecer o autismo através dos filhos, ele descobriu seu propósito. E hoje, impacta dezenas de outras famílias com sua escuta, sua clínica, sua música — e sua verdade.

Precisamos falar mais sobre paternidade atípica e valorizar a figura do pai atípico, somente assim poderemos mudar a realidade de que muitas mulheres se sentem cuidadoras exclusivas da criança autista.

“Eu não enxergo o autismo como meu ganha pão, mas sim o meu propósito de vida.”

Se você quer conhecer melhor o trabalho de Nathan na clínica, acesse o Instagram!

Esse foi nosso proTEAgonista Nathan Chaves, se assim como ele você também quer contar a sua história, entre em contato através do Instagram!

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