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Sinais de autismo em meninas: Conheça a proTEA Celina!

7 minutos de leitura

Esse é um texto que mostra a realidade da diferença dos sinais de autismo em meninas. Vamos conhecer a proTEA Celina de 21 anos, mora com os pais e o irmão em Curitiba. Ela é designer e ilustradora e trabalha em uma empresa que produz material didático. Recentemente, lançou um quadrinho sobre autismo, um tema que faz parte de sua história de vida e autodescoberta.

Seu irmão mais novo recebeu o diagnóstico de autismo aos 3 anos. Algum tempo depois, seu pai também foi diagnosticado, e, por fim, Celina também recebeu seu laudo de autismo.

A descoberta do autismo

“A princípio foi um processo um pouco turbulento, porque o meu irmão é nível 2 de suporte, então no meu irmão o autismo era muito aparente e tinha coisa que eu me identificava… depois de um certo tempo fez muita clareza quando eu conheci outras meninas autistas, porque meninos e meninas no autismo têm uma grande diferença. Quando meus pais foram pela primeira vez num congresso de autismo em Fortaleza, eles viram que eu poderia estar dentro do espectro porque conheceram outras meninas autistas. Quando voltaram para Curitiba fiz consultas com psiquiatra, com neurologista e saiu o meu laudo um tempo depois, quando eu tinha 15 anos.”

Desde pequena, Celina apresentava estereotipias e ecolalia, e essas características eram perceptíveis desde a infância. Seu hiperfoco e interesses restritos também sempre foram marcantes.

Ela também destaca que a diferença entre os sinais do autismo em meninos e meninas fez com que seu diagnóstico demorasse mais. Enquanto seu irmão tinha um comportamento mais típico do autismo masculino, Celina mascarava alguns sinais, um comportamento comum em meninas autistas. Ela menciona que, ao conhecer outras meninas no espectro, conseguiu finalmente entender melhor sua própria identidade autista.

Fonte: Arquivo Pessoal – cedida por Celina

Sinais de autismo em meninas e meninos

Os sinais do autismo podem se manifestar de maneira diferente em meninos e meninas, o que pode impactar no tempo e na precisão do diagnóstico. Em meninos, o autismo tende a ser mais evidente, com características como dificuldades marcantes na interação social, comportamentos repetitivos e interesses restritos bem definidos. Já em meninas, os sinais podem ser mais sutis e frequentemente mascarados, devido a uma maior tendência ao que se chama de “camuflagem social” – ou seja, a tentativa consciente ou inconsciente de imitar comportamentos neurotípicos para se encaixar socialmente. Além disso, meninas autistas podem ter interesses intensos, mas em temas considerados mais socialmente aceitos, o que pode dificultar o reconhecimento do autismo.

O impacto do diagnóstico

“Depois do laudo, muita coisa se esclareceu. Antes eu era somente uma pessoa esquisita, então depois de um laudo, muitas das minhas esquisitices se esclareceram, não falando de forma pejorativa. Mas eu tinha um diagnóstico para comprovar meus tics, ecolalia. As intervenções foram sempre com psicólogos, com psicopedagoga, com neurologista e fiz um pouco de fonoaudiologia.”

Atualmente, Celina faz acompanhamento com neuropsiquiatra e psicóloga.

Hiperfoco e paixão pela ilustração

Celina sempre teve um grande interesse por desenho e ilustração. Seu hiperfoco a levou a estudar profundamente a arte, com uma inclinação especial para desenhar mulheres. Ela destaca que temas como a causa das mulheres e da comunidade LGBTQIA+ estão sempre presentes em suas obras.

Fonte: Arquivo Pessoal – cedido por Celina

Desafios na socialização e na educação

Celina comenta que sempre teve dificuldades para fazer amigos e socializar, além de lidar com estereotipias muito aparentes. Isso fez com que muitas vezes fosse rotulada como a “menina esquisita” da sala.

“Eu sempre jurava que eu era muito burra na escola, porque eu não ia bem, não tirava boas notas, além do autismo, tenho o TDAH, mas depois que eu tive acompanhamento com a neuro, eu entendi que eu não era burra, mas que eu tinha limitações que não eram respeitadas, e que minha inclusão não estava muito acertada na escola e que não tinha como acertar porque ninguém sabia que eu era autista, só foram descobrir quando eu estava no ensino médio. Então foram muitos anos de dificuldade na escola e na faculdade eu também tive muita dificuldade de socialização, mas como eu já tinha muita clareza do meu autismo, foi um pouco mais fácil lidar e compreender minha posição naquele lugar. Eu sempre digo que o autismo abriu muitas portas na minha autodescoberta, mas ele não é um mar de rosas… sempre tem suas dificuldades e suas limitações, mas acredito que minha descoberta do autismo foi o esclarecimento de muitas questões pessoais da minha vida desde que eu era pequena.”

Autismo e mercado de trabalho

Celina se sente respeitada pelo laudo em seu ambiente de trabalho, mas ainda percebe falhas no processo de inclusão.

“É uma questão um pouco complicada, porque por mais que as empresas falam que são inclusivas, eu acho que falham em muitas questões, de aceitação de dificuldades. Por exemplo, eu que tenho muito hiperfoco acabo absorvendo muitas coisas, mas a minha saúde tem um limite. Eu sempre digo que tem mais um discurso de inclusão do que a prática.”

Ela já enfrentou burnout devido à alta carga de trabalho e reforça a importância de as empresas se atentarem às reais necessidades dos funcionários neurodivergentes.

Fonte: Arquivo Pessoal – cedida por Celina

A negligência com o TDAH

Antes de receber o diagnóstico de autismo, Celina foi diagnosticada com TDAH, mas sua condição foi negligenciada por muitos anos.

“Não tomei medicação por muito tempo. Quando voltei a ver as questões do TDAH já estava quase com o diagnóstico de autismo.”

Hoje, ela faz acompanhamento terapêutico e utiliza medicação para auxiliar na atenção e no foco.

“Muitas coisas se resolveram com o uso da medicação, percebi que eu não era burra, mas que não conseguia prestar atenção nas aulas e nem absorver aquelas informações, porque o TDAH era muito forte em mim.”

Fonte: Arquivo Pessoal – cedida por Celina

Sonhos e planos para o futuro

Celina tem o grande sonho de construir uma carreira na ilustração e nos quadrinhos. Seu objetivo é lançar uma publicação solo com seu nome na capa.

“Sou muito direta, gosto muito de imaginar minha carreira, sonho com meus quadrinhos, minhas personagens. Quero juntar tudo isso numa publicação própria.”

Ela também reforça a importância de ampliar a visão sobre o autismo, reconhecendo a diversidade dentro do espectro.

Portanto, o autismo vai muito além do estereótipo de um menino branco, criança, com pais presentes. É essencial dar visibilidade a quem está fora dessa bolha, enfrentando desafios diários sem o apoio ideal.

Como recebi um diagnóstico tardio, minha experiência difere do que geralmente se imagina sobre a vida autista. Meu irmão, por exemplo, enfrenta dificuldades diferentes.”

Ela complementa: “Nem tudo sai como a gente sonhou, e tudo bem. As mudanças acontecem, e nossa rigidez cognitiva espera que tudo aconteça como a gente imaginou… mas muitas vezes a gente sonha e pode chegar ou não, e está tudo bem. O importante é não deixar de sonhar e de tentar.”

O que achou do nosso texto sobre uma história real da diferença dos sinais de autismo em meninas?

Obrigado pela leitura e não deixe de acompanhar outros conteúdos do Autismo em Dia, tanto aqui no site como em nosso Instagram. Até a próxima!

 

 

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